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Quanto custa NÃO ter a coleta seletiva?

Um dos maiores empecilhos apontados pelas prefeituras ao implementar seus programas de coleta seletiva de materiais recicláveis é o custo operacional.

Artur Oliveira, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolveu em sua tese de doutorado um estudo que aborda exatamente esse problema. Ele sugere, entre outros aspectos, que a segregação e coleta seletiva, principalmente das embalagens plásticas, é indispensável para o melhor efeito da compactação realizada por caminhões. Conclui-se que este fato seja crucial para o aumento da longevidade dos aterros sanitários.

Abaixo apresentamos uma breve descrição do trabalho de Oliveira, originalmente publicada em 2002 no Informativo n° 22 da Recicloteca.

Na caracterização dos resíduos sólidos para seu reaproveitamento são levados em conta os objetos, suas formas e volumes.

A pesquisa ressalta que o volume de ar contido nas embalagens, geralmente descartadas com suas respectivas tampas, provoca uma situação de compactação muito significativa no depósito de lixo. A capacidade de compactação associada ao tipo das embalagens influi na vida útil dos aterros sanitários e nos custos de coleta, que dependem do volume dos resíduos. Mas apesar do volume de ar contido nos vasilhames ser um dos aspectos mais importantes do conteúdo dos resíduos, o que está em análise são questões ligadas à coleta e destinação final, com consequências econômicas. Para uma análise econômica é importante considerar os diferentes componentes presentes na massa do lixo, em especial o plástico e o vidro, pois dependendo de suas formas geométricas eles terão densidades diferentes em sua composição.

Dois aspectos influenciam a avaliação da participação dos resíduos nos custos da disposição final, visando uma caracterização mais detalhada do material que o compõe: a espécie de material descartado e estado em que se apresentam: intactos, prensados, inteiros ou fragmentados, conforme for adequado para cada tipo de resíduo recolhido.

Outro aspecto importante para a definição da relação custo-benefício da coleta seletiva é a análise econômica da participação de cada componente dos resíduos sólidos. Isto demanda o estabelecimento de um método de equalização de efeitos, sobre a diversidade do material encontrado, em relação a cada etapa do gerenciamento. Vale lembrar que, atualmente, tudo é tratado em termos de massa (quilogramas, % de participação em peso, R$/ton, etc.).

A Importância de uma Caracterização Tipológico-Volumétrica

A caracterização dos resíduos, de acordo com este novo método, pressupõe a identificação e a contagem dos diversos componentes que apresentem características importantes a respeito da reciclabilidade e indeformabilidade, e que afetem significativamente as operações de coleta, transporte e deposição final.

Para a avaliação da economicidade da coleta seletiva a pesquisa sugere novos indicadores, que levem em consideração a tipologia dos resíduos, e os efeitos diretos e indiretos do procedimento. Assim, estabelecemos aquilo que chamamos de “índice de compacidade”, que corresponde à razão entre a densidade da miscelânea dos resíduos na coleta convencional (ou na disposição final) e cada um dos componentes que se pretenda coletar de forma diferenciada. Na realidade o índice de compacidade (K) representa quantas vezes mais volume é utilizado na disposição final ou em relação à coleta convencional.

 Vantagens da coleta seletiva em termos de custos

A retirada dos recicláveis – em especial plásticos do tipo PET, que são muito utilizados, têm baixa capacidade de compactação e geralmente são descartados com tampa – do lixo comum resulta num ganho significativo de espaço no caminhão compactador. Mesmo quando as embalagens são descartadas sem tampa, o caminhão compactador não reduz o volume dessas embalagens tanto quanto uma prensa hidráulica. O uso da prensa reduziria o custo de cada viagem da coleta seletiva, tanto pelo aumento significativo do valor arrecadado com material reciclável por viagem, quanto pela redução do desgaste e do tempo de serviço dos caminhões;

Há uma possibilidade de otimização de roteiros com substancial acréscimo de arrecadação. Para isso, a coleta seletiva deve ser implementada, sendo que o recomendado nesse trabalho é a destinação dos recursos para:

–            Desenvolvimento de campanhas educativas;

–            Melhor aparelhamento das associações de catadores;

–            Licitação para efetivação dos serviços de coleta;

–            Fortalecimento das associações com a manutenção dos recursos arrecadados pela comercialização.

Se a capacidade de transporte aumentar, certamente o índice de coleta (ton/km) aumenta, proporcionando uma diminuição do custo por tonelada transportada, tanto no investimento em aquisição de caminhões, quanto no custeio de mão-de-obra, combustível, manutenção, etc.

Caso seja feita uma coleta seletiva realmente eficaz é possível projetar a substituição do sistema de coleta através desse tipo de transporte. Assim, o uso de caçambas adaptadas pode reduzir os custos no transporte dos resíduos sólidos domiciliares.

Outra alternativa é o uso de veículos com maior capacidade, associado ou não à utilização de estações de transbordo, que passariam a ter uso mais frequente nos municípios, com vistas à otimização do gasto com transporte.

 A viabilidade econômica da coleta seletiva

Pelo exposto é evidente que os benefícios da coleta seletiva estão ligados à economia em relação à disposição inadequada. Assim sendo, conclui-se que todo o processo – do  acondicionamento até o destino final – faz parte de um mesmo sistema, o que deixa claro a necessidade de implantação de um Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos.

Oliveira parte do pressuposto que a necessidade e os benefícios da coleta seletiva de material reciclável partem da questão: “quanto custa não ter a coleta seletiva?” ao invés do que geralmente se pergunta: “quanto custa a coleta seletiva?”.

Assim, para a verificação da viabilidade econômica de um sistema que utilize a coleta seletiva como um dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos, deve-se comparar o custo adicional para a sua implantação com o que for poupado pela sua incorporação e não somente comparando o gasto para a coleta com o valor obtido pela venda dos materiais arrecadados.

É coerente considerar que a vida útil dos aterros poderia ser aumentada caso todos os caminhões coletores fossem dotados de compactador e que houvesse a separação prévia do plástico para a reciclagem, reduzindo, assim, o volume do lixo a ser depositado.

Fonte:

OLIVEIRA, Artur Santos Dias de. Método para viabilização de implantação de Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos: o caso do município do Rio Grande -RS. Florianópolis, 2002: Tese de Doutorado – Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina.

É possível fazer o download da tese de Artur Oliveira em PDF entrando no site da UFSC.

Saiba mais em nossa página:

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Lixo Reciclável é um termo que prejudica a coleta seletiva

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