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O movimento da cidade

“São Paulo é a cidade que luta com a falta de espaço para o estacionamento e a circulação dos seus veículos. Luta mais do que qualquer outra cidade. É que o seu desenvolvimento foi demasiado rápido…”

“…a vida urbana desenvolveu-se assombrosamente. O numero de automóveis multiplicou-se.”

“… Sendo muito denso e ao mesmo tempo muito lento o trafego no centro da cidade, as ruas se congestionam e dentro de pouco registam-se aquelles tediosos engarrafamentos, verdadeiros collapsos, durante os quaes tudo pára, até mesmo os automóveis particulares, o omnibus e os pedestres.”

Tirando uma ou outra diferença de grafia, o texto acima poderia perfeitamente ser publicado no Estadão deste 22 de setembro de 2011, Dia Mundial Sem Carro, como uma reportagem sobre as condições atuais do trânsito da cidade.

Originalmente publicado em julho de 1937, “O movimento da Cidade” mostra que velhos problemas, quando não resolvidos, exigirão sempre novas soluções.

O MOVIMENTO DA CIDADE

(Suplemento Rotogravuras n.103 – O Estado de S.Paulo – julho de 1937)

São Paulo é a cidade que luta com a falta de espaço para o estacionamento e a circulação dos seus veículos. Luta mais do que qualquer outra cidade. É que o seu desenvolvimento foi demasiado rápido. A área povoada adensou-se de um modo incrível e o leitor poderá fazer idéa disso lembrando qual foi o aumento da nossa população nos últimos vinte annos. A cidade baixa, de casas térreas, desappareceu como por encanto. Onde havia construcções velhas destinadas a abrigar cerca de sete pessoas em cada casa, surgiram arranha-ceus, de dez e quinze andares, com capacidades multiplicadas. As ruas, por seu lado, eram estreitas e não poderam alargar-se na mesma proporção.

O centro da cidade, com leve alteração para as bandas da praça da Republica, continua a ser demarcado polo tradicional triângulo constituído pelas ruas Direita. 15 de Novembro e São Bento. Ao mesmo tempo, a vida urbana desenvolveu-se assombrosamente. O numero de automóveis multiplicou-se. E, como acontece em todas as metrópoles, o centro foi tomado pelos escriptórios e armazéns, relegando as residências para os bairros afastados.

Ora, nessas condições, os vehiculos de transporte popular têm de conduzir, trez ou quatro vezes por dia, para a cidade e para os bairros mais afastados, pelo menos dois terços da população geral. É a gente que vem para o trabalho, que vai almoçar, que volta do almoço, que se recolhe a tarde e que, não raro, volta á noite para o theatro, o cinema, o café, o clube, enfim a vida de uma grande capital.

Há horas em que as grandes artérias apresentam um fraco movimento: no entanto, em outras horas, ellas parecem tomadas de assalto pelo povo e os bondes passam apinhados de “pingentes”, que desafiam a morte, ao longo dos estritos e até mesmo nos engates das gigantescas gondolas que atravancam as nossas ruas.

Os meios de transporte são escassos, mas em certas horas apenas; durante os períodos intermediários dos grandes movimentos, os bondes que circulam, embora em número calculadamente reduzido, bastam para a população que se locomove. Muitos pensam que nas horas de maior aperto a “Light and Power” poderia pôr em movimento todos os carros que mantém em reserva. Os factos demonstram que não. Sendo muito denso e ao mesmo tempo muito lento o trafego no centro da cidade, as ruas se congestionam e dentro de pouco registam-se aquelles tediosos engarrafamentos, verdadeiros collapsos, durante os quaes tudo pára, até mesmo os automóveis particulares, o omnibus e os pedestres.

Ha ainda a observar que, neste período de reconstrucção que São Paulo atravessa, foi necessário, por assim dizer, calçar e recalçar uma grande parte da cidade. Ora, esses trabalhos que são indispensaveis,” inadiaveis mesmo, tornam ainda mais angustioso o problema do transito.

Constantemente os omnibus, que transportam apreciavel percentagem da população têm de mudar de itinerário, fazendo longas voltas para chegarem ao seu destino. Não raro, os bondes também são obrigados a parar até o desempedimento do caminho, obstruído por machinas, trabalhadores e montes de parallelepipedos. Todo o transito se torna moroso, difficil, quasi impossível.

Os que dispõem de automóveis, por seu lado, não sào tão felizes como se imagina: para elles ha o problema do estacionamento. Não raro, quem trabalha numa das ruas internas do triângulo, tem de deixar o seu carro a um kilometro e mais de distancia, sendo freqüentes os desapparecimentos desses vehiculos, ou apenas de algumas de suas peças, pois a fiscalização, embora muito bem organizada, é ainda assim escassa para o numero de automóveis existentes, numero que cresce incessantemente.

A difficuldade de transporte, por um ou outro motivo, pode ser constatada em toda a cidade. Basta dizer que nos pontos de estacionamento dos omnibus foi estabelecido um systema de “cauda” que em certas horas estende pela cidade compridas filas humanas de homens e senhoras, à espera de transporte para o seu bairro. Como é natural, metade dessa gente não tem esperança de alcançar um logarzinho no primeiro omnibus a chegar, mesmo porque ha pessoas que, mesmo pagando duas passagens, vão esperai o muito antes do ponto de desembarque.

Nos bondes, em certas horas briga-se por causa de um logarzinho n0 estribo. A cidade inteira parece viajar na condição pouco confortável de “pingente”. E as senhoras? Ah! Essas é que mais soffrem com as angustias do transporte, porque neste tempo em que ellas trabalham nos escriptorios e sentem as mesmas necessidades de vir ao centro e voltar para seus bairros, são obrigadas a esperar longo tempo até que passe um carro no qual haja meio de entalar-se num banco em que viajem cinco pessoas magras… Neste ponto é que entra a primeira justificativa do esforço que a humanidade faz actualmente para emmagrecer: não se trata de elegancia nem mesmo de saúde — a humanidade quer emmagrecer para que caibam folgadamente seis passageiros em cada banco.

Fonte: Instituto Akatu. Originalmente publicado no ESTADAO.COM.BR/Blogs

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