Lave os recicláveis sim. Valoriza o material, preserva a salubridade das cooperativas e precisa de pouca água.
Semana passada matéria publicada no G1, o portal de notícias da Globo usou a antiga e malfadada expressão ”lixo reciclável’ e informou equivocadamente que lavar materiais recicláveis é desperdício de água, pois esta lavagem seria feita nas cooperativas.
Primeiro que a expressão ‘lixo reciclável’ tem sido evitada devido ao erro por definição: lixo não é reciclável e os materiais recicláveis são bem diferentes do lixo. Uma matéria prima valiosa coletada, valorizada e reciclada por profissionais de uma importante cadeia econômica não pode nem deve ser confundida com lixo, algo sujo, fedorento e sem valor. Até porque prejudica a luta contra o preconceito que parte da sociedade tem em relação aos profissionais da coleta seletiva, outrora chamados catadores, uma definição que fica muito aquém do valor de seu trabalho.
Segundo que a lavagem de recicláveis, ensinada por ambientalistas e professores há décadas determina uma lavagem superficial que usa pouca água, valoriza o material evitando a contaminação cruzada (líquidos e óleos sujando papéis por exemplo) e, mais importante, garante a salubridade dos muitos locais em que esse material será armazenado antes da reciclagem. Não há lavagem em cooperativas e o suposto aumento da geração de esgoto por conta dessa lavagem é inverídica já que uma hipotética lavagem na cooperativa geraria o mesmo esgoto. Além disso a sujeira dos recicláveis é a mesma da louça que usamos para ingerir alguns dos alimentos, portanto, se fosse verdade o aumento do esgoto deveríamos parar também de lavar louças em casa, o que seria um total disparate.
Não é de hoje que a mídia veicula informações equivocadas sobre a ainda desconhecida coleta seletiva. A citada matéria foi claramente motivada pela escassez de água em alguns reservatórios de São Paulo. Mas o nobre objetivo de orientar a população a poupar água não deveria prejudicar outra ação ambiental importante como a coleta seletiva. Há inúmeras formas muito mais significativas de se reduzir o desperdício de água, mas sem condenar a lavagem de recicláveis, um uso legítimo na valorização desse material, e que ainda compromete a segurança sanitária dos locais que trabalham com coleta seletiva.
Amanhã vamos abordar outros aspectos desta lavagem e daremos dicas de como fazer esta higienização.
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