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Na conta do lixo

Eduardo Bernhardt é formado em biologia, é professor, educador ambiental e consultor do projeto Recicloteca da ONG Ecomarapendi. Há oito anos na Recicloteca, Bernhardt pesquisa, organiza e difunde informações sobre lixo, reciclagem e meio ambiente, além de ministrar cursos, palestras e oficinas sobre o tema. Nesta entrevista, ele fala sobre o impacto ambiental dos Resíduos Sólidos bem como sobre a “Filosofia dos 3Rs” – Reduzir, Reaproveitar e Reciclar.

1) Quais são os maiores problemas que as grandes cidades têm hoje pela falta de reciclagem do lixo?

Eduardo – O baixo índice de coleta seletiva e da reciclagem resulta em excesso de lixo nos depósitos, e mesmo nas ruas. É que coleta seletiva e reciclagem são mais estimulantes para que a população evite jogar lixo no rio, na rua ou num terreno baldio do que simplesmente expor que é falta de educação, por exemplo. Quando isso acontece temos entupimento de bueiros e enchentes, focos de animais transmissores de doenças (ratos, baratas, moscas e mosquitos) além de poluição ambiental que atinge o solo, as águas subterrâneas e até o ar (especialmente quando o lixo é queimado e/ou depositado em lixões).
Na verdade considero o prejuízo econômico o mais relevante problema da falta de reciclagem, e olha que sou ambientalista! Mas é o que mais me chama atenção. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), a reciclagem pode economizar cerca de R$ 8 bilhões por ano. Hoje essa economia varia de R$ 1,3 a 3 bilhões anuais. O cálculo leva em consideração apenas aspectos econômicos e ambientais da geração, descarte e destinação de lixo. No fundo, o baixo índice de coleta seletiva e reciclagem refletem a falta de um gerenciamento integrado de resíduos sólidos que leve em consideração a gestão do lixo e não apenas recolher, transportar e guardar (como é hoje). Levando isso em consideração, a economia seria ainda maior, pois entrariam na conta os benefícios sociais de geração de emprego e renda, além de redução de danos à saúde da população. No gerenciamento investe-se em educação, informação, redução de desperdício, reaproveitamento, reciclagem, compostagem, aterro sanitário, descontaminação / segurança de resíduos perigosos e tudo o que possa racionalizar nossa relação com os resíduos. Numa estimativa bem especulativa, a cifra iria fácil a mais de R$ 10 bilhões por ano, mas quanto vale a qualidade de vida da população brasileira? Acho que vale bem mais que isso. Cuidar do lixo dá dinheiro para o país.

2) Como fazer para reciclar materiais como o chamado e-lixo, pilhas, óleo de cozinha, sacolas plásticas e outros materiais que prejudicam o meio ambiente?

Eduardo – O lixo eletrônico é bem frustrante. Não há lei que obrigue os fabricantes a recebê-los de volta. Algumas empresas recolhem por iniciativa própria os de suas marcas e empresas especializadas na desmontagem e recuperação dos materiais recicláveis os recebem, mas elas são raras e de alcance limitado. Na pergunta seis eu coloquei contatos variados de alguns estados que recebem pilhas, lixo eletrônico e óleo. Por enquanto, esses três dependem da iniciativa do consumidor para ter um destino correto. Se ele não levar pessoalmente a algum lugar especializado, vai tudo pro depósito de lixo. As sacolas plásticas ainda podem entrar na coleta seletiva convencional, mas o ideal é racionalizar o uso delas evitando o excesso que acaba virando desperdício. Aliás, vale a ressalva: as sacolas não são as vilãs do meio ambiente como se diz por aí. Sabendo usar e substituindo por retornáveis é possível reduzir o consumo e reutilizar na lixeira e em outras situações, na medida certa. Mais uma vez, afirmo que vale o equilíbrio.

3) Quais são as principais conseqüências para o meio ambiente ao se jogar estes materiais no lixo comum? Quanto tempo estes materiais levam para se decompor?

Eduardo – Pilhas e lixo eletrônico contaminam tudo pela frente, ao lado, acima e abaixo também. A maior preocupação é o metal pesado que eles contem, pois ele não se degrada, se acumula na cadeia alimentar e acaba chegando a nós humanos, de um jeito ou de outro. O óleo polui o solo e a água em que ele tiver contato. As sacolas jogadas em locais públicos entopem bueiros e contribuem para as enchentes. Quando elas se decompõem, a tinta do tingimento e das logomarcas contamina o solo e a água. Se queimadas, essas tintas viram dioxinas, substâncias altamente tóxicas que são carreadas pelo vento. Isso tudo está acontecendo agora mesmo por todo o Brasil. É efeito imediato e de longa duração, já que estes materiais demoram muitos anos para se decompor, o que nem é interessante, já que muito da contaminação vem da decomposição deles. O ideal é reciclar o que der e guardar isolado o que não puder ser aproveitado.

4) A curto prazo, quais os efeitos que a falta de reciclagem surtirá no planeta?

Eduardo – De imediato, o aquecimento global já cai na conta do lixo. Mais pela sua parcela orgânica, é claro, cuja decomposição gera o gás metano (CH4) que é 21 vezes mais estufa do que o gás carbônico (CO2). Em seguida vem a contribuição para a escassez de água potável, já que o modelo atual polui demais as águas superficiais e subterrâneas. A falta de espaço próximo às grandes cidades é um risco, pois o alto custo de construir aterros sanitários, que precisarão ser cada vez mais distantes, pode resultar em depósitos inadequados, implantados por cidades em que o licenciamento ambiental correto é substituído por “licenças relâmpago” de idoneidade duvidosa. Tudo em prol da ‘economia’ de recursos públicos. Assim mais contaminação ambiental pode ocorrer. A pressão sobre os recursos naturais, especialmente os não renováveis (metais, vidro, plástico) também pode aumentar muito resultando em escassez e alta no seu preço, além do aumento do impacto ambiental para explorar fontes destas matérias-primas que são de difícil acesso. Veja o caso da exploração submarina de petróleo e a tragédia que se abateu sobre o Golfo do México. A parcela de petróleo usada para fabricar plásticos ainda é pequena, mas tende a continuar aumentando. De qualquer forma, somos dependentes de recursos naturais que são desperdiçados com embalagens descartáveis de necessidade muito duvidosa.

5) O que já foi degradado no meio ambiente pode ser recuperado?

Eduardo –
Quase tudo. A recuperação é bem polêmica, pois não há consenso em algumas ‘recuperações’ que soam mais como engodo. Transformar lixão em aterro controlado é um dos engodos. Melhora, mas é uma melhora bem limitada. Há vários níveis de controle e lixões geralmente estão tão mal localizados que os impactos na vizinhança são difíceis de serem eliminados pra recuperar a qualidade de vida de quem vive nas redondezas. Além do mais é sempre mais caro, difícil e lento recuperar do que prevenir.

6) Quais são as alternativas para se reciclar pilhas, óleo de cozinha, e-lixo, sacolas plásticas e outros materiais?

Eduardo – Para fazer a coleta seletiva recomendo ler a seção de mesmo nome na página da Recicloteca. Separar para a coleta seletiva é facílimo, basta uma segunda lixeira para o material reciclável que deve estar limpo e seco. O critério de separação lixo úmido/seco resolve a maioria das dúvidas quanto ao que é e o que não é reciclável. Assim fica mais fácil e atraente separar o material.

Seguem, os contatos que mencionados na Questão 2.

Para destinação de pilhas:
Programa de Logística Revera de Pilhas da ABINEE.

Para destinação de sucata eletrônica:
No Rio de Janeiro – Quem recebe e-lixo no RJ
Em São Paulo – Sucata Digital e Oxigênio (Os interessados em doar equipamentos de informática devem entrar em contato por telefone: (11) 3051 3420 ou por correio eletrônico através do e-mail: assessoria@oxigenio.org.br)

Para destinação de óleo vegetal:
No Rio de Janeiro: Cooperativa Disque Óleo Vegetal
Para o Estado do Rio de Janeiro: Programa de Reaproveitamento de Óleos Vegetais – Prove / INEA

Entrevista concedida à jornalista Ana Rosas Alkmin, por e-mail, para a Revista Novas Ideias! – Polishop.

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Link para atribuição de créditos: http://www.recicloteca.org.br?p=680

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