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Qual é sua “pegada ecológica” ?

Por Washington Novaes – O Popular

Fonte da imagem: Jornal Bahia Norte

Nunca é demais citar Kofi Annan, o ex-secretário geral da ONU durante uma década, homem experiente, vivido, respeitado. Diz ele que, hoje, os problemas centrais do mundo são mudanças climáticas e consumo de recursos naturais mais de 30% além da capacidade de reposição do planeta. Esses dois problemas, afirma Annan, “colocam em risco a sobrevivência de espécie humana”. É muito grave. É preciso ouvir. E agir, para reverter o quadro – porque ele continua se agravando, com o consumo excessivo levando à perda de fertilidade de terras, desertificação, poluição e contaminação de águas etc.

Diz a ONU que, hoje, a disponibilidade média de área e recursos para atender a cada uma das quase 7 bilhões de pessoas que existem no mundo seria de 1,8 hectare. Mas o uso já é de 2,7 hectares por pessoa – o que significa 50% mais que a disponibilidade, embora o consumo de recursos se distribua desigualmente, já que temos no mundo quase um bilhão de pessoas que passam fome, 40% da humanidade que vivem abaixo da linha da pobreza, 2,5 bilhões sem saneamento básico (23% defecam ao ar livre), e em 2025 serão 1,8 bilhão de pessoas mergulhadas na “crise da água”, segundo a ONU. No Brasil, a média de hectares (recursos naturais, pastagens, áreas de cultivos etc.) já usada por pessoa é de 2,9 hectares, também acima da disponibilidade mundial, embora essa relação fosse muito favorável se comparasse apenas os habitantes do país com as áreas disponíveis do nosso território.

É importante, por isso, um estudo divulgado há poucos dias, da “pegada ecológica” dos habitantes do município de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, feito pela Ecossistemas, WWF do Brasil, Global Footprint Network, Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e Prefeitura do município. É o primeiro concretizado no país e traz informações importantes. Lá, a “pegada” por habitante é de 3,14 hectares (área necessária para atender às necessidades de cada pessoa), mais que a “pegada” média brasileira (2,9), 75% mais que a média mundial de 2,7 hectares. Com essa “pegada”, se estendida a todas as pessoas no mundo, precisaríamos de mais um planeta com 75% da capacidade do nosso para atender às necessidades. O peso maior na “pegada” é da alimentação (45%), com destaque para o consumo de carne, 14% acima da média brasileira. E, nesse consumo, a liderança fica com o “churrasco”.

O trabalho não ficou apenas nas constatações. Já propôs e começam a ser executados programas para mudar o quadro: produção de alimentos orgânicos (o município importa legumes), apoio à agricultura familiar, reflorestamento de áreas degradadas, recuperação de nascentes e matas ciliares, criação de corredores ecológicos. O município começa também a implantar a coleta seletiva de lixo e usará os resíduos orgânicos para produzir fertilizantes.

É importante que seja assim, que se comece a reverter um quadro dramático, enfatizado em 2010 na reunião da Convenção da Biodiversidade, em Nagoya, Japão, onde se demonstrou a indispensabilidade de ampliar rapidamente as áreas de conservação no mundo – e no Brasil, onde elas estão em torno de 7% e precisam chegar a 17,5%. Outra discussão promovida pela ONU em Paris há duas semanas mostrou que é preciso redirecionar 2% do produto bruto em 10 setores de cada país – de florestas e energia à pesca e transportes – para reforçar a segurança e criar mais empregos que nos modelos atuais, que usam recursos em excesso.

Que faremos aqui? Já consumimos no país além da disponibilidade média do planeta mas ainda temos 17 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza (renda per capita mensal inferior a R$140,00). Desde o início do Plano Real, houve uma queda de 67% nos índices de pobreza; no governo Lula, 50,6%. E o custo para erradicar a pobreza seria de R$22 bilhões por ano, mais do que se aplica no programa Bolsa Família, que, ao custo de R$1,22 bilhão por mês, perto de R$15 bilhões por ano, beneficia diretamente 14 milhões de pessoas e, com suas famílias, 40 milhões. Não é muito, se se considerar que o governo paga mais de 10 vezes do que isso em juros a bancos e aplicadores (internos e externos) em títulos da dívida pública, que está em R$1,63 trilhão, (O POPULAR, 26/4).

Mas para extirpar essa miséria será preciso avançar muito em algumas áreas (de modo a atender também a outros segmentos). Nada menos de 100 milhões de pessoas no país não dispõem hoje de rede de coleta de esgotos em suas casas (em Goiás, quase 60% da população). Quase 10% dos habitantes no país não recebem água potável. Só 29% dos esgotos coletados recebem algum tratamento – e os esgotos são a principal causa de poluição da água no país. Mas se resolvermos o problema da pobreza, aumentará o consumo de recursos e, com ele, a “pegada ecológica”. É preciso trabalhar em mais de uma direção.
Seria interessante saber qual é a “pegada ecológica” de Goiânia. E começar a trabalhar para mudar também aqui o panorama.

Fonte: Site do jornalista Washington Novaes, publicado no dia 05 de maio de 2011 no jornal O Popular de Goiânia.

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