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Projeto faz lixo virar roupa e limpa o Morro dos Macacos

Por Camilo Coelho – Blog da Pacificação – Relatos de uma cidade integrada

Que tal trocar o lixo sólido produzido diariamente na sua casa por arroz, feijão, farinha ou material de limpeza? A ideia do projeto Limpar (Lixo Movimentando Produção, Arte e Renda) surgiu em 2008 com o objetivo de alertar e sensibilizar os moradores do Morro dos Macacos sobre a necessidade de diminuir a quantidade de lixo jogado diariamente nos becos e vielas da comunidade. E está dando muito certo. Na semana passada fui lá conhecer e fiquei surpreso com a capacidade de organização, de conscientização junto aos moradores e o sucesso do trabalho. O que vi foi um projeto muito bem estruturado, mas que sem apoio ficará restrito às 300 famílias atendidas atualmente. Além da reciclagem, existem duas meninas que transformam o lixo em arte: camisas, vestidos, saias, bolsas, banco de garrafa pet e tudo aquilo que a criatividade permitir. Deixei a comunidade com a impressão de que com um investimento o Projeto Limpar pode se estender para todas as famílias do Morro dos Macacos e se tornar um modelo de coleta de lixo para outros morros e favelas do Rio. Vou contar agora um pouco do que conheci.

O projeto Limpar funciona embaixo do Centro Cultural da Criança (CCCcria), localizado na Rua Armando de Albuquerque, a principal via do Morro dos Macacos. Quando cheguei fui recebido pela Regina Maria da Silva, que é a responsável por todo o trabalho. Ela me levou para conhecer o espaço e depois contou um pouco da história do Limpar. A ideia da reciclagem surgiu em dezembro de 2008. Presidente do Centro Educacional de Ação da Criança e do Adolescente (Ceaca), Anna Marcondes estava incomodada com o lixo que se acumulava em frente ao Centro Cultural da Criança – onde hoje funciona o projeto – e preocupada com a possibilidade de doenças.

– A Dona Anna me deu três meses para conscientizar os moradores. A comunidade não sabia como tratar o lixo. Fizemos reuniões, conversamos e em três meses o espaço já estava lotado de material – conta Regina Maria, que ficou conhecida na comunidade como a “rainha da sucata”.

Para o trabalho dar certo, primeiro foi preciso explicar aos moradores como fazer e a importância da reciclagem para o bem-estar de todos. São realizadas palestras educativas e diariamente duas funcionárias visitam as residências para conversar com os moradores. Atualmente, o Limpar tem 300 famílias cadastradas, pessoas que trocam o lixo seco pela “moeda verde” (alimento não-perecível). A reciclagem começa dentro das casas, separando plástico, papel, garrafas pet, vidro e jornal.

– Pedimos para as pessoas descerem com material limpo, sem comida ou qualquer coisa que possa trazer um cheiro insuportável aqui para dentro. Todo o material é pesado e temos um controle para saber exatamente quanto cada família trouxe. O lixo é transformado em moeda verde e trocado por comida – explica Regina.

O lixo que chega é todo separado dentro do projeto. Os funcionários colocam em sacos diferentes o material dividido em tipo ou cores diferentes. Depois tudo é levado para um ferro-velho e vendido. E o dinheiro obtido é utilizado para a compra de mais alimentos. Uma coisa sustenta a outra e assim o projeto vai caminhando. Sem nenhum tipo de apoio, o serviço fica restrito a apenas parte da comunidade. Muitas vezes existe dificuldade até para conseguir os sacos que separam o lixo.

– Incentivo nós temos, precisamos é de alguém que abrace o projeto. Não atendemos a comunidade toda porque não temos condições. Se todos os moradores participarem, daqui a algum tempo seremos uma comunidade modelo, limpa, onde as crianças vão poder brincar sem problemas. Esse é o nosso objetivo – sonha a responsável pelo Limpar, que ainda me contou um número impressionante:

– No ano passado conseguimos separar aproximadamente 15 toneladas de lixo seco. Imagina esse material espalhado pela comunidade?

Lixo movimentado para arte e renda

Mas o projeto não está limitado a ‘apenas’ limpar a comunidade. No Limpar o lixo também é reciclado em forma de arte. E com muita originalidade. As oficinas de artesanato são responsabilidade das meninas Taiza Pinto dos Santos (de blusa vinho nas fotos) e Camila da Silva Teodoro (que veste verde). Elas criam roupas lindas, bolsas que utilizam disco de vinil e utensílios para o lar. O material foi apresentado ao público no ano passado, durante o I Ceaca Fashion Morro Sustentável, realizado no Centro Cultural da Light, em Vila Isabel. No acervo de moda, destaque para as roupas customizadas com retalhos, disquetes e lacres de lata de alumínio. Pelo trabalho, as meninas recebem uma bolsa de R$ 100. Taiza e Camila também são as responsáveis pelas palestras nas escolas, visitas nas casas dos moradores cadastrados e aulas de artesanato. Todos os funcionários do projeto Limpar precisam estar estudando.

Enfim, o Projeto Limpar se trata de uma grande iniciativa da comunidade. Algo inovador que com o apoio necessário pode servir de modelo para outras localidades. Seria uma solução simples para o grande problema do lixo, que tanto incomoda quem vive ou visita os morros e favelas. Alguém se habilita a ajudar?

Veja mais fotos do projeto:

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