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Repensar nossas vidas

Por Washington Novaes – Jornal O Popular

Quanto o eventual leitor destas linhas pensa que emite de gases poluentes, a cada ano, com suas atividades no dia-a-dia? Diz o governo brasileiro, sem mencionar o valor atual, que com a nova política nacional do clima chegaremos em 2020 a 2,1 bilhões de toneladas anuais de toneladas no país; sem ela, chegaríamos a 3,2 bilhões de toneladas/ano – e isso quer dizer que estamos hoje aí por volta de 1,6 bilhão de toneladas anuais. Se dividirmos por 190 milhões de habitantes, serão pouco mais de 8 toneladas por habitante, 8 mil quilos de poluentes por pessoa. Há quem diga que já emitimos mais – por exemplo, o conceituado consultor do governo britânico, Sir Nicholas Stern, afirma que já estamos emitindo mais de 11 toneladas anuais por pessoa.

Isso inclui não só as emissões decorrentes de atividades pessoais – os poluentes do motor do automóvel, ou a cota que cabe a cada um nas emissões de termelétricas movidas a carvão, ou as emissões decorrentes de desmatamentos e queimadas em florestas, ou até mesmo do metano emitido pelos bois em seus arrotos e flatulências (58 quilos anuais cada um, que devem ser multiplicados por 23 para ter a equivalência em carbono) – como muitas outras atividades. A média evidentemente esconde diferenças. Motocicleta polui mais que automóvel. Deslocar-se de ônibus ou de metrô polui menos que por automóvel. Viagem de avião polui muito. Mais consumo de energia em casa, idem. E assim por diante.

Se o leitor acredita que as ações humanas estão aquecendo o planeta e ajudando a provocar mudanças climáticas, quanto estaria disposto a reduzir em suas emissões de poluentes, para evitar que a situação piore? Tanto quanto um norte-americano, por exemplo? As estatísticas dizem que os habitantes dos EUA consomem cinco vezes mais gasolina que os da média dos países não-industrializados. Então, como definir a redução para cada um? E se se lembrar que os habitantes dos países industrializados emitem poluentes há muito mais tempo, desde o início da revolução industrial, no século 18, e contribuíram muito mais para a concentração de poluentes na atmosfera? E se um chinês argumentar que ainda precisa urbanizar e fornecer energia elétrica a mais de 100 milhões de pessoas – energia proveniente de usinas movidas a carvão, altamente poluentes? Se um indiano disser que em seu país ainda há 400 milhões de pessoas sem energia e que a única fonte disponível também estará em usinas movidas a carvão? E se um amazonense disser que as únicas possibilidades de trabalho para ele estarão como derrubador de florestas, plantador de pastos e de grãos ou peão de fazenda de bois?

Com tantas complicações, não é de estranhar que em mais uma reunião da Convenção do Clima, em Cancun, no México, encerrada no dia 11 [dezembro 2010], tenham sido muito escassos os avanços rumo a acordos que permitam reduzir as emissões em escala global. Como sempre, estiveram à mesa as diferenças entre os 194 países participantes. E nessas reuniões é preciso ter consenso para aprovar decisões a serem cumpridas por todos. O único consenso ali foi em torno de uma declaração de intenções sem caráter obrigatório. E ainda assim passando por cima do voto contrário do representante da Bolívia (“consenso não é unanimidade”, disse a presidente da reunião; e bateu o martelo, enquanto o boliviano disse que recorrerá à Corte Internacional de Haia).

Pelo consenso, para evitar que a temperatura da Terra suba mais que 2 graus Celsius (já subiu 0,8 grau) será preciso reduzir as emissões para no máximo 44 bilhões de toneladas anuais em 2020; mas, pelo que os países dizem (sem compromisso obrigatório) que farão, esse total chegará a 54 bilhões de toneladas naquele ano. É possível até que seja mais, se muitos países, em lugar de reduzir emissões, financiarem em outros países projetos que evitem mais poluentes e descontem, de seus inventários de emissões próprias, os poluentes evitados.

Nessa toada, quanto mais tempo passar, mais complicado será, pois o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lembra que será preciso baixar as emissões em pelo menos 50% até meados deste século. E isso fica ainda mais difícil quando se sabe que até lá a Terra terá pelo menos mais 2 bilhões de habitantes para se juntarem aos quase 7 bilhões que já somos. Ou quando se tem em mente que é preciso aumentar o consumo de energia e alimentos para quase um bilhão de pessoas que já passam fome. Tecnologias certamente poderão ajudar a reduzir as emissões de poluentes. Mas não resolverão o problema todo.

Na verdade – é preciso lembrar sempre – nossos modos de viver são inadequados às possibilidades do planeta. Consumimos mais recursos do que ele pode prover. Geramos mais poluentes do que ele pode suportar – e ele reage com mudanças climáticas. Estamos – é inescapável – diante de uma crise do padrão civilizatório. Teremos de pensar nisso. E reformular nossos modos de viver.

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