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Guia de Sobrevivência na Crise Hídrica

Com o despertar tardio de setores da imprensa, parece que finalmente as pessoas começaram a embarcar (sic) na importância da crise hídrica, sobretudo em São Paulo. Embora as consequências de um colapso total ainda não estejam sendo devidamente tratadas, pode ser reconfortante dar um espaço para a fé e acreditar que podemos vencer essa situação calamitosa fazendo nossa parte e reduzindo drasticamente nosso consumo, via mudança de hábitos.

No atual momento, em decorrência então da avalanche de notícias publicizando a questão, podemos olhar agora para o lado prático das soluções. Inicialmente, parece óbvio que dar solução à oferta de água é o que mais precisamos. No entanto, para evitarmos o racionamento, ou pelo menos um sofrimento excessivo durante um rigor de quatro ou cinco dias sem água durante a semana, precisamos nos organizar para este enfrentamento.

Então, vamos ver como fazer?

Uma ação “mão na massa” exige, antes de tudo, planejamento. Para isso, precisamos saber quanto gastamos de água hoje para projetar quanto podemos gastar em breve, mudando nossos hábitos. Tão importante quanto planejamento é engajar todas as pessoas da casa a adotarem as mesmas práticas. Lembre-se que precisamos estar prontos para vencer de quatro a cinco dias sem água nas torneiras. Então além de ter um plano, é fazer com que todos que vivem na casa o sigam.

1) Organizando o pensamento coletivo: precisamos nos preparar como se estivéssemos em guerra (não é muito diferente, acredite). Numa guerra, não apenas o exército mais preparado é quem ganha; dependendo da campanha, o acesso a suprimento de recursos é a vantagem decisiva. A primeira regra é: agir coletivamente; nenhum soldado sozinho consegue fazer muita coisa. Esqueça o Rambo! É na coletividade que um time ganha o campeonato. A segunda regra é: estoque-se! O estoque deve ser para suprir as necessidades essenciais e as demandas de água que assegurem a qualidade de vida com porções mínimas. A seguir veremos como usar melhor a água e reaproveitá-la.

2) Equipando-se para a campanha: precisamos estar adequadamente equipados para fazer as economias de água. Então, abaixo está uma foto de seus novos melhores amigos: baldes de grande capacidade, uma bacia grande e um balde flexível. Os baldes grandes têm a função de estocar água para consumo direto e de reuso. O balde flexível serve para coletar água do banho para reuso, enquanto a bacia será muito útil na coleta de água de enxágues de louças e serviços que usem torneiras de pias.

3) A batalha da pia de louças: não subestimem a pia de louças. Principalmente para quem tem crianças em casa, que usam muitos utensílios sem tanto critério de louça que é limpa ou suja, a pia de louças é uma das grandes vilãs da água (ou amiga dos desperdício, se preferirem). Uma lavada de louças de um almoço ou jantar para quatro pessoas pode facilmente mandar para o ralo entre 20 e 30 litros de água potável. Como evitarmos essa perda? Em etapas:

a. Use guardanapos já usados na refeição para remover a maior parte da gordura de pratos, talheres, travessas e panelas;
b. Uma vez removida a gordura pesada, jogue uma chaleira de água quente sobre os utensílios – vai facilitar muito o trabalho e reduzir o cheiro de gordura nas mãos do soldado/mártir que estiver incumbido desta missão desagradável;
c. Lave a maior quantidade de utensílios com esponja e sabão neutro. Para sujeiras mais encrustradas use palha de aço ou até mesmo uma faquinha (para os cantos);
d. Agora, o momento principal: o enxague. Coloque sua bacia dentro da pia, e enxague a louça ali dentro: a água que seria perdida passa a ser coletada, e dali vai para o balde maior destinado ao reuso.

4) A batalha do banho: ah, o banho… onde relaxamos, repensamos nossos planos, elaboramos as coisas boas e não tão boas do dia… Bom, isso foi antigamente! Banho, a partir de agora, tem função de limpeza do corpo tão somente; sem essa mudança de pensamento, o plano afunda. Então, siga a estratégia:
a. Tome banho dentro de um balde(ou piscina infantil) semelhante ao da foto acima, onde caiba um adulto com segurança e sem risco de escorregões;
b. Molhe o corpo inteiro, e a seguir desligue o chuveiro;
c. Ensaboe-se por completo: cabelos, etc., etc.;
d. Por fim: enxague-se! Depois é só jogar a água coletada em um dos baldes para reuso da água.

5) A batalha da máquina de lavar roupas: essa inicialmente é a batalha mais fácil de ser vencida. Quase todas as máquinas usam para desague uma mangueira direto no tanque de lavar roupas, então é só fazer a conexão e coletar a água para reuso. Mas, podemos sofisticar o trabalho:
a. Separe em um balde a água da primeira lavada – esta é a mais suja, então use-a para descargas no banheiro;
b. A seguir, quando começar o enxágue, separe esta água em outro balde – ela é muito mais limpa que a primeira, e pode ser reutilizada na própria máquina de lavar e outra partida de roupas;
c. Não esqueça! Use apenas sabão de coco ou neutro (são biodegradáveis), e evite de todas as formas os amaciantes, que contaminam a água e dificultam a sua reutilização.

Como podemos observar, todo o esforço é para reduzir o desperdício de água boa reaproveitarmos a água consumida em outras necessidades. Agora, o que fazer com a água de reuso?

i) Vaso sanitário: cada descarga de água consome entre 6 e 10 litros d’água, a depender da tecnologia usada na caixa. Em casas com várias pessoas morando, o consumo cairá drasticamente;
ii) Máquina de lavar roupas: conforme dito antes, podemos reusar entre 20 e 30 litros d’água reaproveitada do enxágue da própria máquina em nova lavada;
iii) Uso externo: lave folhagens, calçadas, carro e áreas externas com água de reuso!
iv) Se sobrar: doe para seu vizinho. Ele poderá estar precisando e de quebra você melhora sua relação na rua ou no condomínio.

Mas, qual é o resultado desta operação toda?

Economia bastante significativa.

Em banhos normais/atuais, as estatísticas dão que o consumo por “banho eficiente” de 5 minutos, segundo website da Sabesp, é de 45 litros – o normal está entre 130 e 150 litros, para banhos de 15 minutos ou mais. Os experimentos que fiz recentemente, usando balde e controlando a água usada no enxágue, conseguimos fazer com… 7 litros. Isso quer dizer economizar 85% de um volume que já era considerado muito bom. E dá para melhorar! Os 7 litros obviamente foram coletados e contabilizados para o reuso.

Na pia, conseguimos reaproveitar o volume de água de duas bacias de uma lavada. Cada bacia tem capacidade de 10 litros, então, por refeição, conseguimos reaproveitar cerca de 40 litros nesta “batalha” por dia (considerando que há louças a lavar no almoço e no jantar).

Na máquina de lavar roupa, a lavada é grande: 30 litros reaproveitados por máquina, em cada uso.

Somando (considerando que a casa tem 4 pessoas):

Banho
Consumo padrão atual 1: 45 X 4 = 180
Consumo realizado 2: 7 X 4 = 28 (15%)
Consumo evitado no banho (1 – 2): 152 litros/dia
Volume reaproveitado: 28 litros

Pia (lavando louça)
Consumo padrão atual (aproximado para volume de louças e utensílios de cozimento para consumo de 4 pessoas): 30 litros.
Consumo realizado: 25 litros (usando as sugestões que damos para remover gorduras)
Consumo evitado: 5 litros
Volume reaproveitado: 25 litros.

Máquina de lavar roupas
Consumo padrão atual: 50 litros
Consumo realizado: 30 litros (reutilizando 20 litros do enxágue);
Consumo evitado: 20 litros;
Volume reaproveitado: 30 litros.

Finalmente
Total de consumo de água evitado: 177 litros
Total de volume de água reaproveitado: 83 litros.

Agora vem o questionamento: se todos fizerem isso, evitamos o colapso de abastecimento de água?

Não sei ao certo. Mas nossas chances aumentam significativamente, já que estamos evitando usar mais do dobro do que estamos captando para reuso. Ambos os números são excelentes, mas estamos correndo contra o relógio agora. Cabe fazermos nossa parte.

* Texto de Rodrigo Holtermann Lagreca é empreendedor na área de educação para consumo e concorrência e na área comportamental para conservação de recursos.

Fonte: Site Mercado Ético

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Link para atribuição de créditos: http://www.recicloteca.org.br/?p=14367

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