A Ecomarapendi é a ONG (organização não-governamental) responsável pela Recicloteca. Além do centro de informações de meio ambiente e reciclagem, oferece diagnóstico participativo, estudos de impacto ambiental e de vizinhança, treinamento e capacitação. Entre em contato pelo email contato@ecomarapendi.org.br
Fechar janela

Tubarões no Globo Mar

Por Marcelo Szpilman* – Instituto Agualung

Na quinta-feira da semana passada, o programa Globo Mar, da Rede Globo, abordou a pesca industrial de grandes peixes e tubarões oceânicos e mostrou a prática do finning em uma embarcação de pesca brasileira. Nas redes sociais e no blog do próprio programa dezenas de comentários criticaram o teor e a abordagem do episódio. Como biólogo marinho e diretor do Instituto Aqualung e do Projeto Tubarões no Brasil, acredito ser importante esclarecer essa questão.

Gostei muito de ver que a maioria dos comentários era de indignação quanto às imagens dos pescadores extirpando as nadadeiras dos tubarões. E é para se indignar mesmo com tais práticas cruéis, mas não com o programa. Tamanho contrassenso seria como culpar o carteiro pelo conteúdo da carta.

O programa prestou, isto sim, um excelente serviço ao mostrar para o grande público o que vem ocorrendo “silenciosamente” nos últimos anos em todos os mares do Planeta, inclusive nas águas brasileiras. Expor um tema não significa incentivá-lo. Conheço muito bem o jornalista Ernesto Paglia e o biólogo marinho Marcelo Vianna e posso afirmar que ambos (e o programa Globo Mar) NUNCA se prestariam ao papel de incentivar o tratamento cruel de animais.

Seria muito bom ver as pessoas que se indignaram não ficando só nas palavras, mas tomando atitudes e ações em favor da preservação dos tubarões. O Projeto Tubarões no Brasil, que há anos vem atuando com campanhas de esclarecimento e educação, é um caminho nesse sentido. Participe. Tome uma atitude correta em favor da Natureza.

O Projeto Tubarões no Brasil, do Instituto Ecológico Aqualung, dentro de sua Campanha Nacional contra o Finning, está nesse momento promovendo um abaixo-assinado a ser enviado ao Congresso Nacional apoiando a criação de uma nova legislação federal (Projeto de Lei) determinando que todos os tubarões capturados em águas brasileiras deverão ser desembarcados com suas nadadeiras íntegras e no corpo do animal. Além de coibir a prática do finning e facilitar a fiscalização dos órgãos competentes, essa nova legislação possibilitará o maior controle das espécies alvo de pesca e obtenção de nadadeiras e das quantidades de tubarões capturados. Leia ao final dessa mensagem as razões que explicam a importância dessa campanha de proteção dos tubarões.

Ajude acabar com essa Prática Insustentável! Proteger os tubarões é proteger a vida, é proteger a nós mesmos!  Vida de tubarão não é Sopa! Pare com o Finning!

Assista ao programa Globo Mar
Assine aqui o abaixo-assinado!

Saiba mais esta prática:

O que é Finning

Finning é a pesca ilegal para obtenção exclusiva das nadadeiras dos tubarões, uma das mais cruéis e perturbadoras perseguições realizadas pelo ser humano. Em todos os oceanos, cerca de 70 milhões de tubarões são mortos todo ano para abastecer o ávido e lucrativo comércio mundial de nadadeiras de tubarão, do qual o Brasil e centenas de outros países participam.

Como e porque o Finning é praticado

Capturam o tubarão, cortam fora suas nadadeiras e atiram o corpo de volta ao mar. Muitas vezes vivo, mas mortalmente aleijado, o animal afunda para morrer sangrando, comido por outros peixes ou para apodrecer no leito do mar. Mesmo que essas nadadeiras fossem diretamente para o prato de crianças famintas, seria um total despropósito. Mas não é para isso que são ceifadas.

As nadadeiras abastecem o mercado chinês para produção de sopa de barbatana de tubarão, tradicional prato da culinária chinesa considerado afrodisíaco e símbolo de status. Mais uma dentre as inúmeras aberrações predatórias e criminosas que vemos ao redor do mundo, especialmente no Oriente, como a “crença” de que partes de animais podem trazer benefícios à saúde do homem ou curar suas doenças.

Os Impactos do Finning

A pesca para obtenção das barbatanas de tubarão é uma ação predatória progressiva, constante e silenciosa. É insustentável e está ameaçando seriamente a sobrevivência das populações de tubarões __ 43% das espécies de tubarões em nosso litoral já estão ameaçadas de extinção. Se nada for feito, dezenas de espécies, cujas populações declinaram em até 90% nos últimos 20 anos, estarão extintas nas próximas décadas.

A sociedade e nossos governantes precisam entender que os tubarões exercem um papel crucial na manutenção da saúde e do equilíbrio da vida nos mares. Sem esses guardiões dos oceanos, teremos um ambiente doente e frágil e os decorrentes desequilíbrios nos ecossistemas marinhos serão imprevisíveis e catastróficos.

A Comprovação do Finning no Brasil

Um recente estudo realizado na Universidade New Southeastern, na Flórida (EUA), analisou o material genético de 177 tubarões-martelo da costa brasileira, do Caribe, do Golfo do México e dos oceanos Pacífico e Índico e confrontou os dados com o DNA de 62 nadadeiras de tubarões da mesma espécie à venda em Hong Kong __ um dos maiores mercados no mundo, onde a barbatana de tubarão pode custar até US$ 700 o quilo. O estudo concluiu que 21% das nadadeiras vinham do Oceano Atlântico Ocidental, área que inclui o Brasil. Ou seja, existem pescadores no Brasil, como há em outros 120 países, participando da pesca ilegal e do tráfico de barbatanas de tubarão.

Exemplos de Legislações e Iniciativas contra o Finning

Brasil – A Portaria do Ibama nº 121/1998 proíbe a rejeição ao mar das carcaças de tubarões dos quais tenham sido removidas as barbatanas e somente permite o transporte a bordo ou o desembarque de barbatanas em proporção equivalente ao peso das carcaças retidas ou desembarcadas. Para efeito de comprovação dessa proporcionalidade, o peso total das barbatanas não pode exceder a 5% do peso total das carcaças. Nos desembarques, todas as carcaças e barbatanas de tubarões devem ser pesadas. Nota: a legislação é boa, mas de difícil emprego, controle e fiscalização.

Estados Unidos – O Congresso americano aprovou em dezembro de 2010 uma nova legislação exigindo que todos os tubarões capturados legalmente em águas norte-americanas devem ser desembarcados com suas nadadeiras íntegras e no corpo do animal. Nota: essa legislação é muito boa e pragmática e serviu de exemplo para nossa campanha.

Hawaii – No início de 2010, o Estado do Hawaii (EUA), com o objetivo de banir a sopa de barbatana de tubarão, aprovou uma lei proibindo a posse, venda, comércio e distribuição de barbatanas de tubarão.

Califórnia – No início de 2011, o Estado da Califórnia (EUA), como fez o Hawaii, aprovou uma lei proibindo a posse, venda, comércio e distribuição de barbatanas de tubarão.

União Europeia – No início de 2011, por iniciativa da Project AWARE Foundation (ligada à PADI), o Parlamento Europeu endossou uma resolução para banir o Shark Finning, propondo a proibição da remoção das nadadeiras dos tubarões à bordo das embarcações européias. Espanha, Portugal, Reino Unido e França estão entre as nações TOP 20 responsáveis por 80% da captura global de tubarões. Somente os barcos espanhóis são responsáveis pelo suprimento de 25% das barbatanas vendidas em Hong Kong.

Washington – Em maio de 2011, a governadora do Estado de Washington (EUA) assinou uma lei proibindo o comércio de barbatanas de tubarão.

*Marcelo Szpilman, Biólogo Marinho formado pela UFRJ, com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor e Redator do Informativo do citado Instituto, diretor do Projeto Tubarões no Brasil (PROTUBA) e membro da Comissão Científica Nacional (COCIEN) da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS).

Se você quiser seguir a Recicloteca no Twitter, clique aqui.

Gostou dos textos? Detestou? Queremos saber!
Deixe aqui seus comentários, criticas e sugestões!
Estamos fazendo o blog para vocês e
ele é uma construção conjunta.
Ajude-nos a melhorá-lo!

Este texto está protegido por uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional
Link para atribuição de créditos: http://www.recicloteca.org.br?p=4827

Gostou desse post?

A Ecomarapendi é a ONG (organização não-governamental) responsável pela Recicloteca. Além do centro de informações sobre meio ambiente e reciclagem, oferece diagnóstico participativo, estudos de impacto ambiental e de vizinhança, treinamento e capacitação.

Assuntos relacionados

Compartilhe nas redes sociais

Deixe um comentário